Quando viralizou o vídeo de uma convidada derrubando a decoração de uma festa de casamento para fotografar a entrada dos noivos com o próprio celular, reacendeu o debate sobre o limite das fotografias amadoras em eventos. No vídeo, enquanto os noivos entram, a convidada se debruça sobre a decoração para fotografar e acaba caindo sobre as flores e invadindo a passarela, estragando o momento único dos noivos.
Duas reflexões sobre isso.
A primeira é que, na minha humilde opinião, quem estragou o momento único dos noivos, não foi a convidada. Foi o decorador.
Na “boaça”… a convidada foi escolhida com amor pelo casal, uma pessoa super querida, caso contrário, não estaria lá. E por todo esse amor nutrido ao casal, ela estava muito querendo ver os noivos entrar, postar em primeira mão pro casal ver depois, até como forma de retribuição ao convite carinhoso. Se a mureta caiu, a culpa foi de quem não fixou direito. Ela ia cair com ou sem celular na mão.
A segunda, como profissional de fotografia, se a invasão de celulares nos casamentos me incomoda? Já incomodou um pouco sim, confesso. Afinal, qual taxista já não ficou incomodado com o Uber? Qual médico ou advogado não se estressou quando o cliente já chegou com diagnóstico do Dr. Google na ponta da língua?
Mas, como tudo na vida, a gente precisa se adaptar e tirar o melhor de cada coisa. Se eu tiver medo dos celulares dos convidados me substituírem, eu certamente tenho um problema, que pode ser ou de qualidade profissional ou de baixa auto estima. Os dois são bem fáceis de resolver, pro primeiro, aprendizado e pro segundo, tratamento.
As fotos dos celulares, e vídeos também, são maravilhosas! São postadas na hora, cada uma com um olhar diferente, isso é mágico! Vários pontos de vista do mesmo momento, poder ver isso é tudo de bom! Há pouquíssimo tempo não tínhamos esses benefícios!
As nossas fotos (digo dos profissionais) são diferentes. Primeiro pela qualidade do material, que vai ser guardado pra sempre. Nossos olhares são profissionais, estamos lá no momento certo, pois sabemos antes o que vai acontecer e em que momento. Temos o privilégio de acertar antecipadamente com o celebrante, Padre ou Pastor um local com o melhor ângulo . Nossas fotos têm pós produção: vamos apagar uma tomada que se sobressai na parede, fechar um botão de uma camisa que abriu, abrir o olho da noiva na foto que ela piscou… o celular, por mais que tenha filtros bonitos, não tem os recursos que nós temos e dominamos.
Fora que a velocidade instantânea das fotos amadoras resolve um baita problema pra gente. Fala sério, todo mundo já quer ver as fotos no dia seguinte, se for no mesmo dia, melhor ainda. E a galera com o celular super pode postar na hora e matar a curiosidade e ansiedade de todo mundo! Pro fotógrafo, mesmo que ele te mande só 10 fotinhos no dia seguinte: elas serão escolhidas aleatoriamente, certamente não são as melhores, pois ele não olhou todas pra escolher; o tratamento vai ser básico e rápido e você terá do seu profissional, fotos muito parecidas com as dos seus convidados. E aí cai naquela, a primeira impressão é a que fica, e eu não quero passar uma impressão amadora nas minhas fotos, então, eu fico bem feliz e quero mais é que todo mundo poste do celular, inclusive, eu também posto do celular junto, pra incentivar mais ainda!
E, durante o processo de tratamento, escolho as fotos com calma, carinho e amor, para fazer uma prévia e emocionar novamente os casais, sem pressa, mas com perfeição. E esse vai ser nosso principal diferencial e vai garantir nosso espaço nos casamentos, festas de 15 anos, aniversários infantis, shows e tudo o mais, mesmo em meio à enxurrada de celulares.
Só pra finalizar com uma gracinha, porém, história real… a long time a go, em um casamento muito lindo, que renderam fotos maravilhosas e que estão em nosso portfólio até hoje, o cerimonial teve um problema, e resumindo, não tinha garçons na festa. Depois de clicar a cerimônia, lá fui eu, super prestativa, querendo ajudar, peguei uma bandeja de comidinhas e fui, bem feliz em direção às mesas. Sabe aquele momento em que o noivo pega o microfone, pede silêncio e atenção? Sim, bem nessa hora, tropecei no tapete, cai de quatro no chão, e os pratinhos com toda a comida voaram na direção do noivo. “Grazadeux”, não teve tempo para nenhum registro fotográfico, nem de celular… Obviamente fiquei bem envergonhada e me senti culpada, mas, como o próprio casal disse, a minha atitude não estragou a festa, no máximo, fiz todo mundo rir. E essa foi minha motivação para escrever em defesa da moça que caiu na passarela lá no comecinho, fiquei pensando, quem estragou tudo, no meu caso, foi o cerimonial, pela falta dos garçons. E no caso da moça, todo mundo focou na foto que ela queria tirar, mas o problema de verdade foi a decoração que não estava devidamente fixada.
Sempre acho, e toda essa discussão me prova isso, que é mais fácil culpar os outros pelos nossos fracassos, desviando o foco do verdadeiro problema para se isentar.
Por isso, quando alguém estica o braço na minha frente com um celular pra clicar um momento crucial do casamento, eu foco na foto dele, e tenho um clique maravilhoso, inédito!